BR 153: 10 km de trânsito intenso e perigoso

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Trecho que vai do Estádio Serra Dourada até o anel viário de Aparecida está com fluxo quase 3 vezes acima do limite. Consequência: é um dos mais violentos do País

Em determinadas horas do dia, é possível observar o trânsito da BR-153 totalmente travado no perímetro urbano de Goiânia e Aparecida de Goiânia, mesmo quando não há acidentes. Isso acontece principalmente porque o fluxo de veículos é quase três vezes maior neste trecho do que a rodovia federal suporta. Em média, são 55,6 mil veículos que passam por ali diariamente, quando a capacidade é de apenas 20 mil carros/dia, segundo a concessionária responsável por aquele trecho, a Triunfo Concebra.

O trecho de dez quilômetros entre o Estádio Serra Dourada, em Goiânia, até o trevo para a saída do Anel Viário, em Aparecida de Goiânia, é qualificado como nível de serviço “F”, o pior em uma escala que vai da letra “A” à “F”, como aponta o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Basicamente, essa classificação mostra a capacidade de uma rodovia para absorver o tráfego dos veículos. As qualificadas como “A”, por exemplo, têm condições de fluxo livre e a presença de outros veículos não impacta no trajeto ou na velocidade. Já no nível “F”, como o da BR-153 em Goiânia, o tráfego já é forçado. A velocidade, nesse caso, cai a um valor inferior a 48 km/h.

As consequências desta situação têm impacto direto nos relatórios da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O trecho é considerado pelo órgão o 11º mais perigoso entre as rodovias federais do País, em função do elevado índice de acidentes de trânsito. Há seis anos, era considerado o 26º, o que mostra uma piora. Entre 2012 e 2016, 36,5% dos 5.973 acidentes e 32,1% das 283 mortes que ocorreram no trecho Sul da BR-153 (entre Goiânia e Itumbiara) foram nestes 10 quilômetros entre a capital e a cidade vizinha.

Os pontos de estrangulamento estão mais concentrados onde tem viaduto e os congestionamentos se formam com mais frequência nos horários de pico, entre 7h e 9h da manhã e das 17h às 19h. Mas o motorista também sofre com uma movimentação bem crítica durante todo o período da tarde.

O professor de Engenharia de Trânsito no Instituto Federal de Goiás (IFG), Marcos Rothen, acredita que a tendência para o futuro próximo é que os congestionamentos sejam mais frequentes e mais longos, perdurando por diversos quilômetros. “É um problema metropolitano e institucional. Deveria ser uma estrada e não uma avenida como é hoje. Na estrada não existem acessos a todo instante. Ela tem que ser isolada. Não tem um paliativo para a questão”, comenta Rothen.

A própria Triunfo Concebra relata que nos quatro anos que opera em Goiás houve “pequenos acréscimos e com a recuperação econômica, a tendência que aumente o fluxo de veículos” nos próximos anos nesse trecho específico.

Iluminação

Quando a noite chega, a situação do motorista não melhora. Na verdade, só muda o problema: a falta de iluminação. A estimativa é que atualmente 80% dos pontos de luz estão com problemas em todo o trecho urbano de Goiânia e Aparecida. A Triunfo Concebra afirma que a solução está longe porque a questão se encontra numa espécie de “limbo de responsabilidade”.

O imbróglio se arrasta há pelo menos quatro anos, quando a Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) inaugurou a iluminação do trecho goianiense da BR-153 após um convênio com o governo federal no qual o Estado investiu em estrutura e nos custos de manutenção. Em seguida, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) questionou o pagamento pelo Estado em área de responsabilidade federal e a Triunfo assumiu o trecho da rodovia.

De acordo com a empresa, a Agetop quis transferir a responsabilidade da iluminação para a Triunfo, que não aceitou, já que não fazia parte do programa de exploração.

“A ANTT prometeu assumir a conta. Fizemos um acordo com a Celg na época e houve essa transferência. Mas depois o Tribunal de Constas da União (TCU) queria que a conta de luz fosse repassada para a concessionária, no entanto seria uma taxação dupla, já que o contribuinte paga pela iluminação pública no município e pagaria também na tarifa de pedágio. Aí a ANTT recuou e essa questão ficou em uma zona cinzenta”, relata o diretor-presidente da Triunfo Concebra, Odenir Sanches.

Sem melhorias

Sanches diz que não estão previstas obras para solucionar o problema do congestionamento, mas fala em “obrigação moral” que levou a empresa a agir com “alterações pontuais”. Ele afirma que a situação financeira da empresa comprometeu propostas maiores. “Tínhamos três projetos para o viaduto da Avenida Anhanguera, para o trecho do Estádio Serra Dourada até o viaduto da saída para Bela Vista e outro para o viaduto no Parque das Laranjeiras. Como estamos numa situação financeira complicada dificilmente serão tocados”, afirma.