Goiânia chega aos 80 anos com jeito e desafios de cidade grande
Para especialistas, crescimento beneficia a economia, mas traz problemas. Eles apontam possíveis saídas para que capital mantenha qualidade de vida.
Goiânia completa 80 anos nesta quinta-feira (24) com ares e muitos desafios comuns às grandes cidades. Especialistas ouvidos pelo G1 apontam o crescimento da população, que atualmente é estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1,3 milhão, como algo benéfico, pois ajuda a manter a economia ativa. No entanto, segundo eles, a capital ainda não está preparada para atender a todas as demandas de infraestrutura necessárias.
De acordo com a professora Celene Cunha Barreira, associada ao Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG), a capital é nacionalmente reconhecida pela qualidade de vida e isso atrai novos moradores. “Existem dois movimentos migratórios que atingem Goiânia. Um deles gira em torno das pessoas com poder aquisitivo mais baixo, que chegam em busca de trabalho e só conseguem estabelecer moradia nas cidades da Região Metropolitana. O outro é de profissionais qualificados, que vêm exclusivamente em função do emprego, mas acabam gostando da cidade e estabelecem residência”, explica.
Celene afirma que essa chegada constante de novos habitantes é importante para a economia. “Essas pessoas acabam gastando tudo o que ganham aqui, fazendo com que a circulação de recursos se mantenha aquecida”, disse.
No entanto, segundo a professora, esse aumento da população reflete diretamente na qualidade de serviços públicos, como saúde, educação, transportes e segurança pública. “Está na hora dos administradores entenderem que Goiânia não caminha sozinha e que é preciso também pensar na Região Metropolitana. Isto porque se a pessoa trabalha aqui, e na cidade em que ele reside não existem serviços eficientes, ele vai acabar utilizando tudo o que for disponibilizado na capital. Sendo assim, o desenvolvimento tem que chegar para todo mundo, ou só uma cidade ficará sobrecarregada”, destacou.
Para a professora, o caminho para encontrar uma saída para atender a demanda é o planejamento. “Goiânia passou de cidade local para regional e agora tem que ser analisada como global. O Plano Diretor, que foi aprovado sob protestos e teve as mudanças suspensas pela Justiça, não pode ignorar a realidade da cidade. Não adianta liberar a construção de prédios por toda a cidade, uma vez que os outros aspectos de infraestrutura também não avançam”, concluiu.
Para o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóvel 5ª Região (Creci-GO), Oscar Hugo Monteiro, o crescimento da capital começou de maneira positiva, mas, aos poucos, a expansão passou a ser desordenada. “Como em toda grande cidade, as casas começaram a dar espaço para os prédios. Quem não quer morar em apartamento, teve que se mudar para áreas limítrofes e ficou longe do centro da cidade”, explicou.
Trânsito
Segundo ele, esse movimento acabou refletindo em diversos aspectos, mas principalmente no trânsito. Conforme dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a quantidade de veículos em 2012 cresceu quatro vezes mais que a população em Goiânia, onde a proporção é de praticamente um carro para cada habitante.
“Como estão mais longe e o transporte público ainda não é totalmente eficiente, as pessoas encontraram nos carros a maneira mais confortável para se locomover. No entanto, a malha viária não teve o desenvolvimento suficiente para suportar todo esse fluxo e já é comum encontrarmos vias que, em determinados horários, são quase intransitáveis”, reforça.
Monteiro ressaltou ainda que a chegada de um único prédio, por exemplo, pode afetar todos os moradores de uma região. “O local foi construído para um determinado número de moradores. Mas o edifício faz com que o número de pessoas que circulam por lá quase triplique. Sendo assim, algumas regiões, como no Setor Bueno, não há mais espaço para construções desordenadas”, destacou o presidente.
Educação
A capital de Goiás é hoje um polo universitário na região Centro-Oeste. De acordo com dados do Conselho Estadual de Educação, Goiânia possui atualmente três centros universitários públicos e 29 instituições particulares de ensino superior. "A cidade atrai estudantes de outras partes de Goiás e até de outros estados, particularmente da região fronteiriça, como Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul", afirmou o conselheiro Marcos Elias Moreira.
Segundo Moreira, a metrópole regional também atrai uma parcela de mão de obra qualificada, professores com mestrado e doutorado. "Essa concentração de pesquisadores contribui para aumentar a qualidade no ensino superior oferecido", diz o especialista.
Na educação básica e no ensino médio, Goiânia possui uma malha escolar que engloba um total de 731 escolas. De acordo com dados do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) de 2012, são 336 instituições privadas, 284 municipais, 109 estaduais e 3 federais.
Saúde
O atendimento na rede pública de saúde da capital está entre as principais reclamações da população. Apesar de ser referência em algumas áreas, como na oftalmologia, a demanda de pacientes ainda é grande, o que reflete em uma longa fila de espera para consultas e exames, principalmente nos Centros de Assistência Integrada à Saúde (Cais).
No total, a Secretaria de Estado da Saúde administra os nove centros hospitalares, como o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e o Hospital Geral de Goiânia Dr. Alberto Rassi (HGG). Já na esfera municipal, são 129 unidades de saúde. Entre elas estão os Cais, maternidades e Unidades de Pronto Atendimento (UPA).
Lazer e Cultura
Goiânia é capital mais arborizada do país para cada 100 mil habitantes, segundo dados de 2010 do IBGE. A espécie de árvore que ocupa a maior parte desses locais é a Monguba (19% do total).
De acordo com a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), a capital tem 80 córregos em uma extensão territorial de 739 quilômetros quadrados, quatro ribeirões e um rio, o Meia Ponte.
Uma das opções de lazer preferidas pelo goianiense é ir ao parque. A capital possui atualmente 191 unidades de conservação espalhadas pela cidade, segundo a Amma. Entre os principais estão os parques Vaca Brava, no Setor Bueno; Flamboyant, no Jardim Goiás; Bosque dos Buritis e Lago das Rosas, no Setor Oeste.
A cidade conta com sete museus e seis centros culturais, com destaque para o Goiânia Ouro e o Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON). Às vésperas do aniversário de 80 anos, a capital recebeu, entre seus presentes, a reabertura do Centro Cultural Martim Cererê, que ficou fechado durante dois anos para reforma.
Violência
Além do trânsito e da saúde, um dos principais desafios a serem enfrentados pela capital é o aumento da violência. De julho a setembro, 157 pessoas foram assassinadas na capital, de acordo com balanço divulgado pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-GO).
Um dos casos mais preocupantes de crimes na capital envolve a série de mortes de moradores de rua. Nos últimos 14 meses, 39 pessoas em situação de rua foram assassinadas na Grande Goiânia.
A sequência de crimes começou no dia 12 de agosto do ano passando, quando um jovem de 22 anos foi morto com três tiros, na esquina da Avenida Independência com a Rua 68, no Centro. Usuário de drogas, ele teria sido morto por um soldado da Polícia Militar, que acabou preso.
Por meio de nota, a SSP-GO informou que tem ampliado o policiamento em Goiânia. Também lançou há uma semana um aplicativo que permite que os cidadãos acionem a polícia por celulares.
Desde o início dos casos envolvendo moradores de rua, a Polícia Civil descarta a possibilidade dos crimes estarem relacionados. Quando o elevado número de mortes de pessoas em situação de rua chamou a atenção da população, a polícia prometeu intensificar as ações para coibir os assassinatos. Entre as medidas anunciadas estavam uma força-tarefa para a resolução dos crimes, o mapeamento dos locais onde eles ocorreram e o monitoramento das áreas com maior incidência.
Fonte:
G1 Goiás