Goiânia 77 anos - Destino de migrantes

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Com mais de um milhão e 200 mil habitantes, Goiânia, que foi planejada inicialmente para 50 mil, completa hoje 77 anos. De 1933 a 2010, a Capital de Goiás colecionou mudanças em seu espaço urbano, mas sempre foi identificada como um pólo de oportunidades. Se a oferta de trabalho foi o grande atrativo no passado, hoje ela se mistura a novos chamarizes. A cidade foi considerada, por duas vezes, uma das cidades brasileiras com o melhor Índice de Qualidade de Vida. O desenvolvimento, a dinâmica e as transformações da cidade se deram principalmente com migração interestadual e também com a vinda de pessoas do interior de Goiás. De acordo com o último Censo, quase 600 mil pessoas de outros Estados residem em Goiás. Só em Goiânia são mais de 100 mil migrantes.

O crescimento vegetativo sempre foi emblemático na Capital, de acordo com o mestre em Geografia e professor do Instituto de Estudo Sócio-Ambientais (IESA) da Universidade Federal de Goiás, Denis Castilho. “O que causa a explosão demográfica é a migração interestadual”, explica, analisando que esse fenômeno ocorreu em Goiânia devido o contexto brasileiro de 90, em que a cidade já era tida por alguns teóricos como metrópole e os problemas agrários e no nordeste se intensificaram.

“Quem migra é o trabalho.” Com a construção de Goiânia, a causa da migração se dava pela ofertas de emprego e oportunidades que a nova cidade oferecia. Hoje em dia, a procura por emprego ainda é um dos motivos, mas soma-se a isso a busca pela qualificação e qualidade de vida. Goiânia em 2007 já havia superado as metas para a Rede Municipal de Educação prevista pelo Ministério da Educação para os anos de 2009 e 2011, de acordo com dados do Índice de desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). “Goiânia é um pólo para a educação”, explica Denis Castilho.

Para os migrantes do interior do Estado, a migração localizada está aumentando. “Antes a migração era do campo para a cidade, hoje é de cidade para cidade”, explica o geógrafo. Quando a educação é o motivo da migração, o tempo de permanência é o tempo de estudo. Esse é o caso da vestibulanda Marianna Vigário Porto Assis, de 17 anos, que veio de Goianésia para Goiânia para cursar o ensino médio. Caso passe no vestibular da Universidade Federal de Goiás, ela pretende ficar na cidade. “Eu gosto muito de Goiânia, é uma cidade que não é parada tem escolas e faculdades boas”, conta.

Do Estado de Minas Gerias e do nordeste brasileiro foram os locais de onde partiram e continuam partindo o número mais expressivo de pessoas para a Capital de Goiás. Entre os estados de onde vieram mais migrantes, de acordo com o IBGE, se destacam Minas Gerais – em primeiro lugar com 5,7% dos migrantes –, Bahia, Tocantins, Maranhão, São Paulo e Pará. A pessoa mais idosa residente no Estado, Sebastiana Tereza de Castro, de 110 anos, mora em Goiânia e veio de Minas Gerais. Ela se considera “mineira do pé rachado”. Sebastiana se mudou para a cidade ainda jovem e se dedicou ao trabalho voluntário.

“A migração era mais fácil das regiões do Oeste da Bahia e do Norte de Minas, porque na época a locomoção era muito difícil”, conta Joaquim Cardoso Sales, de 71 anos, que veio com 11 anos para Goiânia. Joaquim, com 7 irmãos e os pais, percorreu o caminho de Correntina, oeste da Bahia, até a capital de Goiás, no ano de 1950. A viagem durou 22 dias, contando a espera pelo transporte. “Fizemos esse trajeto em animais e depois em caminhão, numa caravana de 32 pessoas.” A família veio para Goiânia procurando um futuro melhor – emprego e estudo para os filhos – e a cidade era o local que eles julgavam mais indicado. A adaptação no novo município foi fácil, segundo ele. “Nós viemos morar na Vila Nova, e tinha muita gente da nossa região no bairro, nos sentimos a vontade”, lembra.

“A mão-de-obra que construiu a cidade foi a dos retirantes, principalmente os profissionais liberais”, explica Joaquim Sales, que desde que chegou a cidade passou por vários empregos. Da família, a irmã mais nova se dedicou aos estudos os outros tiveram que trabalhar para conseguir manter a família. “Mas todos os netos do meu pai estudaram e se beneficiaram da base que construímos.”

Depois que conseguiram a casa própria, a família passou a receber os migrantes que vinham da Bahia, familiares ou não. “A nossa casa era tida como ‘Consulado Baiano’.” Eles recebiam até 20 pessoas, que ficavam na casa até conseguir ter condições de arrumar um lugar pra ficar. Mesmo tendo oportunidade de sair de Goiânia, Joaquim sempre preferiu ficar. “A terra natal da gente é onde se vive bem. Onde se tem condição de viver dignamente”, explica contando que toda a família gosta muito de viver em Goiânia.

De acordo com a pesquisa “Migração e Trabalho no Contexto Socioespacial dos Bairros Periféricos de Goiânia” realizada pelo IESA, a maioria dos migrantes veio para a capital com o primeiro grau incompleto, e dificilmente continuaram os estudos. Mas, a maioria conseguiu ocupações, e dos entrevistados pela pesquisa 93% estavam satisfeitos e não querem voltar para a cidade de origem. Esse é o caso do paulista Davi Aparecido Rodrigues, 37 anos, e também do tocantinense Uelton Carvalho dos Santos, 23. Eles vieram passar férias e acabaram ficando em Goiânia, sem planos de sair da cidade.

“Goiânia ainda lembra muito interior”, opina Davi Rodrigues. A paranaense Rosangela Keiko Arita, 33, e a brasiliense Líllian Arruda, 20, compartilham da mesma opinião. A hospitalidade do goianiense e a arborização da cidade são alguns dos motivos, que segundo eles, ainda mantém essa característica na metrópole. “Apesar do trânsito já estar complicado, Goiânia é uma metrópole com cara interiorana”, opina Joaquim Sales, que se assusta com o tamanho que a cidade tem hoje.

Migrantes se identificam com Goiânia

SUL
Morando há quatro anos em Goiânia, a analista de negócios Rosangela Keiko Arita, de 33 anos, veio do Paraná para a Capital a trabalho. “Quando penso em Goiânia me lembro dos parques, principalmente do Vaca Brava”, explicou lembrando que muitas vezes não sobra tempo para passear.

SUDESTE
Davi Aparecido Rodrigues, 37, eletricista de autos, mora há cinco anos na Capital, veio de São Paulo. “Fiquei aqui um tempo e foi amor a primeira vista”. A arborização da cidade chamou a atenção dele, assim como a hospitalidade do goianiense. “Em Goiânia, adoro o Parque Areião, local muito bom pra relaxar, passear”, conta.

NORTE
Uelton Carvalho dos Santos, 23, deixou o estado do Tocantins e se estabeleceu na cidade no ano de 2005. “O que me marcou quando conheci Goiânia foi ver de perto um estádio de futebol, primeira vez que eu vi foi aqui e me apaixonei. A Praça Cívica também chama muito a minha atenção, porque é o centro de tudo”, conta.

NORDESTE
Joaquim Cardoso Sales, 71, é funcionário público aposentado, veio da Bahia e mora há 60 anos em Goiânia. “Quando eu cheguei, ficava na porta de casa e enxergava o relógio da Avenida Goiás, de tanto que não tinha nada.” Para ele o principal ponto de Goiânia é o Lago das Rosas. “A vida social da cidade era lá”.

DISTRITO FEDERAL
A estudante universitária Líllian Arruda de Rezende, 20, veio de Brasília para Goiânia em 2008, depois que passou no vestibular. “Apesar de ter sido um choque cultural, gosto muito daqui”. Para ela Goiânia ainda não tem um símbolo ou monumento marcante. “Gosto muito da Praça Cívica, foi o primeiro lugar em que fui, e lá eu me localizei.”

CENTRO-OESTE
A estudante Marianna Vigário Porto Assis, 17, que veio de Goianésia, interior de Goiás, para cursar o ensino médio, gosta muito da cidade, que considera um local onde se tem muitas opções para se divertir. “Estudei muito a história de Goiás, quando penso na Capital lembro-me da Marcha para o Oeste e o monumento do Bandeirante representa muito isso”, explica

Fonte: Jornal o Hoje
Foto: Juventino Neto


Parabéns Goiânia por seus 77 Anos