Barragem faz produtor mudar forma de plantar
Alfredo Mergulhão
Criada para fornecer água potável à região metropolitana de Goiânia, a construção da Barragem do Rio João Leite provocou um efeito colateral nos municípios que compõem sua bacia hidrográfica. Transformadas em caixa dágua da capital, estas localidades têm a base econômica fundada na agricultura. Mas no lugar dos agrotóxicos, agora somente é permitida a produção sustentável de alimentos. O problema é que os agricultores não sabem como mudar de prática e, em consequência disto, seus produtos perdem competitividade.
Antes de ser represado, o curso dágua passa por municípios como Campo Limpo, Goianápolis, Nerópolis, Ouro Verde e Terezópolis. Nestes lugares, a agricultura mobiliza até 80% da população, de forma direta ou indireta. A produção de alimentos nesta região corresponde a 45% do que é comercializado na Central de Abastecimento de Goiás (Ceasa). No entanto, a maior parte do plantio dos itens alimentícios está em desacordo com práticas sustentáveis.
O uso indiscriminado de adubos e insumos agrícolas faz parte de uma cultura já consolidada entre os agricultores. Esta prática foi mantida mesmo após as restrições impostas aos processos produtivos, tanto do meio urbano quanto no meio rural, que ocorreram a partir da criação da APA do Rio João Leite, em 2001.
Com a inauguração da barragem, no início deste ano, a fiscalização das normas ambientais foi intensificada pela Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente (Dema). E como a maioria dos produtores nunca teve a preparação e o treinamento necessários para modificar as próprias práticas, eles passaram da condição de pioneiros para transgressores da natureza.
“Quando dizem que o produtor tem de respeitar certo limite, mas não o orienta sobre onde e o que pode plantar, o que pode e o que não pode criar, eu considero a restrição imposta ao ribeirinho como uma proibição”, disse o secretário de Indústria e Comércio e Meio Ambiente de Goianápolis, José Divino da Costa. O secretário afirma que não houve conscientização para que o produtor ribeirinho produza e usufrua de suas terras com responsabilidade ambiental.
José Divino afirma que os agricultores até sabem que existe a possibilidade de plantio com menos insumos agrícolas, mas que o lobby das multinacionais e grandes indústrias de agrotóxicos para venderem produtos tem sido mais convincente do que os benefícios dos produtos orgânicos. “Se não investir, financiar e preparar o produtor, ele vai falir ou destruir o meio ambiente”, disse.
A barragem do Rio João Leite está localizada próxima ao Parque Ecológico Altamiro Moura Pacheco, na capital. O represamento forma uma reserva que pode fornecer oito mil litros de água por segundo para serem tratadas pela Saneago, volume capaz de abastecer Goiânia até 2.025. A construção da barragem utilizou investimentos da ordem de R$ 188 milhões, incluindo as desapropriações e os 34 programas ambientais.
A Saneago é a detendora da concessão de uso e comercialização da água, e defende a “disciplina no uso dos recursos da bacia do João Leite”, conforme afirmou o gerente de Planejamento de Contratos e Relação com o Poder Público, Edson Filizzola. Para a concessionária, quanto mais poluído estiver o rio, mais caro para tratar a água. Este custo é repassado ao consumidor.
Fonte: Jornal o Hoje