Mercado imobiliário goiano espera 50% de crescimento com novo financiamento da Caixa

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Entidade do setor estima aumento de lançamentos e vendas no segundo semestre deste ano

O mercado imobiliário goiano espera vender 50% mais imóveis no segundo semestre, comparado ao mesmo período de 2018, após o governo federal anunciar uma nova modalidade de financiamento com mudanças nas taxas de juros. De setembro a dezembro deste ano, o setor espera movimentar R$ 500 milhões, em média, com a venda de 2,5 mil imóveis. Neste mesmo período, em 2018, foram vendidos 5 mil imóveis com lucro bruto de R$ 1,15 bilhão, segundo o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), Roberto Elias Fernandes.

“Essa proposta veio em bom momento porque o setor estava preocupado com os fundos para financiar a habitação, que basicamente se sustenta pela Poupança e FGTS. O setor estava preocupado se haveria crédito para a habitação”, revela o presidente da Ademi.

O financiamento mais usado pelos brasileiros usa uma taxa de juros fixa somada à Taxa de Referência (TR). No fim das contas, o consumidor paga 10% de juros ao ano com as duas taxas somadas, em média, que pode variar de acordo com o banco. A mudança no financiamento proposto pelo governo federal será na escolha da segunda taxa de referência. Agora, o consumidor pode optar pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação nacional, ao invés da TR, que, segundo Roberto Elias, será mais vantajoso ao cliente.  

Para o economista Everaldo Leite, neste momento, o mercado imobiliário poderá até reagir, gerando negócios e rendas, entretanto, não dá para afirmar se isso garantirá no curto prazo investimentos novos e retomada dos empregos na construção civil. “Deverá movimentar a economia, mas de modo prudente, não representando um novo boom imobiliário”, resume o economista.

Segundo o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, o crédito imobiliário tem uma participação pequena no Brasil, de 10%. “Se olhar bancos na Europa e Estados Unidos, essa participação é superior a 50%. Temos crédito baseado na TR (Taxa Referencial). O que anunciamos é uma segunda linha”, afirmou Guimarães em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, na terça-feira, 20, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PSL). De acordo com a estimativa da Caixa, um financiamento com parcela mensal de R$ 3 mil, por exemplo, terá redução ao ponto em que a mesma parcela chegue a R$ 2,1 mil.

“Agora com o IPCA, a Caixa financia e pode comercializar o crédito para um fundo imobiliário ou pensão e o dinheiro volta para o banco financiar mais a habitação”, explica Roberto Elias.

Financiamento com índice IPCA preocupa especialistas

Para 2019, a previsão é de que o índice se mantenha em 4,25% até dezembro, que pode favorecer o financiamento imobiliário baseado nesse modelo. Porém, especialistas alertam para riscos futuros caso a inflação volte a subir.

A analista financeira da Bolsa, Brasil, Balcão (B3), Greice Guerra, alerta o consumidor a ter cuidado ao optar pelo financiamento com juros mais o IPCA pela volatilidade deste índice ao longo do tempo. “O Brasil não tem uma economia segura e sofre com momentos de alta e baixa, e a política interfere nesses ciclos. Isso pode levar ao aumento do índice”, explica Greice.

Para o advogado especializado em Direito do Consumidor, Wanderson Tolentino, existe  uma ilusão de que o contrato ficará mais barato. “Mesmo com a taxa de juros maior, o IPCA varia mais e deixa de ser vantojoso. Mesmo com o novo financiamento, o Código de Defesa do Consumidor prevê que o cliente pode escolher o modelo, não sendo obrigado a optar pelo novo”. O advogado diz ainda que ao optar pelo modelo novo, o cliente não poderá mudar depois se o índice disparar, salvo se existir previsão contratual.

O economista Everaldo Leite reafirma a instabilidade econômica como principal dificultador pela escolha do índice. “Um acréscimo percentual caso haja uma disparada na inflação pode inviabilizar o pagamento das parcelas do financiamento. Famílias devem ter muita segurança em relação ao impacto do financiamento sobre a renda no longo prazo, ou pagar algum seguro que resguarde o investimento em períodos de desemprego ou de incapacidade de pagamento”.