Ciclovias de Goiânia sem manutenção
Cerca de 84% da malha cicloviária não passou por reparos desde a criação e outras só receberam repintura no final de 2016 e início de 2017. Prefeitura busca parceria por melhorias
Na Rua Arco Íris, Setor Irisville, na Região Leste de Goiânia, a ciclovia que liga o bairro à GO-010 serve ao crescimento de mato. Inaugurada em 2016, onde era uma pista de caminhada, nunca recebeu qualquer revitalização. O asfalto no local se desfaz em diversos pontos enquanto que a pintura identificando a exclusividade das bicicletas desaparece. Moradores relatam que é raro ver uma bicicleta no trecho de 1,2 quilômetro (km), servindo o espaço como calçada para a população do setor. Seis anos após a realização da primeira ciclovia na capital, no Corredor Universitário, 84% dos 92,28 km construídos não receberam qualquer reparo
A última revitalização, que se tratou de uma repintura, se deu há um ano e três meses, já na gestão Iris Rezende (MDB), mas contemplou apenas as ciclofaixas dos parques Vaca Brava e Areião e os trechos entre ambos. Antes disso, o governo Paulo Garcia (PT) havia revitalizado, da mesma maneira, a ciclofaixa no Parque Lago das Rosas e os caminhos deste até o Vaca Brava. Todos estes 14,8 km foram construídos em 2015 e, mesmo assim, já apresentam deficiências. As ciclorrotas e as ciclofaixas estão desaparecendo, já que a estrutura é composta pela sinalização horizontal, que não recebe reforço.
Já as ciclovias, com estruturas de concreto, ainda apresentam melhor situação, mas já há pontos com falhas na pista e em todos os cruzamentos com as ruas, em que é feita a transição por sinalização horizontal, há pinturas desgastadas. Na ciclovia da T-63, quando se chega à Avenida T-4, no sentido Nova Suíça para Pedro Ludovico, é como se a via ciclável acabasse. O trecho se torna uma ciclorrota em razão do viaduto com a Avenida 85, mas já não há qualquer indicação no asfalto e o ciclista, além de dividir o espaço com os veículos motorizados, ficam perdidos sem a sinalização.
Estudante de Engenharia de Produção, João Pedro de Morais, de 20 anos, deixou o carro há três meses para se locomover diariamente entre a casa e o trabalho. O trecho é por toda a ciclovia da T-63. Trocou também os 60 minutos que gastava no trajeto de volta devido ao trânsito pelos atuais 30 minutos. “É muito melhor e mais rápido, o único problema é esse esgaste. Ali perto do Terminal Isidória também já tem alguns buracos”, afirma e lembra que, em razão disso, fica mais perigoso utilizar a bicicleta, mesmo nas vias que estão mais conservadas na cidade.
Ligações
Já o servidor público Murilo de Oliveira de Souza reforça que se locomover pelas ciclovias dá mais segurança aos ciclistas, mas que há muitos problemas quando o trajeto passa para ciclofaixas, ciclorrotas e as ruas sem qualquer sinalização. “As pessoas, até mesmo minha mãe, me dizem que eu estou louco por andar de bicicleta em Goiânia. É perigoso mesmo, porque o trânsito não respeita, tem os carros estacionados, as ruas são estreitas e os outros carros pressionam a gente”, explica ele, que passa por trechos sem vias cicláveis implantadas e pela ciclovia do Corredor Universitário.
Souza confirma que a situação da malha cicloviária na capital está a desejar, com ocupação irregular nas ciclovias, sujeiras, falhas no concreto e, especialmente, problemas com a ciclofaixa e ciclorrota, que na prática deixam de existir. Outro problema citado por ele e por Morais é a falta da expansão das vias. “Tem poucos lugares implantados, não aumentou mais nada e acabou faltando as ligações entre as rotas. Não é nem a pintura em si que nos prejudica, é que fica inseguro, porque os carros não respeitam”, alega o servidor público.
Ele cita ainda que não houve expansão do sistema de bicicletas compartilhadas desde a sua expansão, em dezembro de 2016. “Se tivessem mais estações pode ser que as pessoas estivessem usando mais, teria mais respeito pelos ciclistas e também fariam as manutenções, mas pararam tudo.” Quando houve o início do programa, 15 estações de compartilhamento, cada uma com 10 bicicletas, foram instaladas nas regiões Central e Sul de Goiânia, em um contrato de um ano. A renovação foi feita no final de 2017, com a ampliação de uma estação, na Câmara Municipal, mas não há previsão para novos acordos de expansão.
SMT busca parceria com empresas para fazer a revitalização das vias
O secretário Fernando Santana, da Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT), afirma que a sua gestão realizou a revitalização de parte da malha cicloviária da capital no ano passado, sendo as ciclofaixas dos parques Areião e Vaca Brava. “Fizemos parte, mas não toda mesmo”, diz. A promessa em 2017 é que a reforma se daria a partir deste ano, com ampliação das vias cicláveis, o que ainda não ocorreu. A reportagem do POPULAR apurou que o problema é falta de verba para realizar a política de mobilidade. Santana, no entanto, afirma apenas que busca uma parceria com empresas privadas para fazer a revitalização.
“Estamos conversando com a Unimed Goiânia, que já patrocina o serviço de bicicletas compartilhadas, para fazer a revitalização das vias que já existem e também a ampliação de novos trechos e também de novas estações de compartilhamento”, afirma Santana. Há também busca de outras empresas privadas para participarem do acordo, que compreende em financiar as obras enquanto a Prefeitura utilizaria a mão de obra própria. A Unimed Goiânia confirma que já recebeu a proposta do Paço Municipal.
Por outro lado, informa que “está avaliando a proposta da Prefeitura. Ainda não tem uma posição sobre a mesma” e lembra que, atualmente, há uma parceria com Paço apenas em relação à manutenção das estações de bicicletas compartilhadas existentes. O secretário da SMT acredita que o acordo é benéfico também para a Unimed, já que ela seria beneficiária da malha cicloviária por patrocinar o serviço de compartilhamento, que é realizado pela empresa pernambucana Serttel. A reportagem verificou que mesmo o trecho revitalizado há um ano necessitará de reparos.
Fonte: Jornal O Popular