Veja raio X do novo terminal do Aeroporto de Goiânia após 1 ano de operações

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O novo terminal do Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, completa um ano de operações neste domingo (21), após mais de dez anos em obras e denúncias de superfaturamento de R$ 211 milhões. Apontado pelos frequentadores como uma evolução frente à antiga estrutura, o local, segundo eles, ainda deixa a desejar em alguns quesitos, como falta de opções na praça de alimentação e dificuldade na localização.

No total, o terminal tem dois andares, com 34,1 mil metros quadrados, 23 balcões de check-in, 11 elevadores, quatro escadas rolantes, além de três esteiras de restituição de bagagem, sete canais de inspeção, com raio X e detectores de metais e 971 vagas no estacionamento (veja comparação entre o antigo e novo terminal no fim do texto).

A nova estrutura do aeroporto comporta um fluxo de 6,5 milhões de passageiros por ano, contra os 3,5 milhões do antigo terminal. Apesar do espaço maior, houve redução no número de frequentadores. De janeiro a abril deste ano, a unidade registrou 900.510 mil passageiros. No mesmo período do ano passado, houve um fluxo 11% maior, com 1.000.569 pessoas.

Entre os passageiros está a garçonete Ilaine de Farias, de 29 anos. Natural de Curitiba (PR) e morando na Irlanda, ela se surpreendeu ao desembarcar na capital goiana com o namorado, o chef Luiz Felipe Barboza, de 27. Como ele ainda não conhecia o novo terminal, disse que ela chegaria em um “galpão pior que a rodoviária”.

“Ele disse tanta coisa negativa que me surpreendi ao chegar aqui. Achei moderno, limpo, amplo, organizado. Bem diferente da imagem que eu tinha”, comentou.

Alimentação e lojas
No entanto, ao comparar com demais aeroportos no Brasil e na Europa, Ilaine comenta que o terminal goiano ainda precisa melhorar em alguns pontos, principalmente, na praça de alimentação. Adepta de um cardápio saudável, ela teve de sair da dieta para se alimentar no local. Já o namorado se contentou com um suco.

“Têm poucas opções e todas são fast food. Para quem não gosta fica complicado. A gente gosta de uma alimentação saudável”, disse Alves.

Quem trabalha no terminal também reclama da falta de restaurantes. “Aqui tenho duas opções: ou trago marmita ou tenho que sair do aeroporto para almoçar. Só que o restaurante mais perto fica a uns 20 minutos daqui, que é em frente ao terminal antigo”, relata o coordenador de uma loja, Jonatan das Neves, de 27 anos.

Os passageiros também cobram mais conforto e uma vista panorâmica. “Até no antigo terminal tinha um local para ver a pista, e aqui não tem. A maioria dos aeroportos tem essa estrutura. O wifi também é disponibilizado por pouco tempo, apenas meia hora”, aponta o professor Carlos Eduardo Rodrigues.

Atualmente, o aeroporto possui apenas 7 estabelecimentos de serviço e 22 comércios, sendo que o edital de licitação da área comercial informava que há demarcação para cerca de 90 lojas. A Socicam Administração, Projetos e Representações Ltda, que tem a concessão da área comercial do aeroporto por 11 anos, alega que a "área destinada aos estabelecimentos de ramo alimentício tem um total de 60% de contratos ativos", o que era a exigência do edital.

A empresa destaca que recentemente foram inauguradas duas lanchonetes e outros "estabelecimentos já estão em vias de inauguração". A Socicam ainda informa que o aeroporto possui "um variado mix de pontos comerciais", desde ótica a farmácia.

Por sua vez, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) informou que o aeroporto de Goiânia "já oferece toda estrutura adequada, com conforto e segurança, para atender à demanda de passageiros".

Faltam voos
Atualmente, o aeroporto de Goiânia possui em média 40 partidas e 40 chegadas de voos por dia. Quantidade menor do que quando foi inaugurado, quando havia 42 decolagens e 42 pousos diários.
Agente de viagens, Rodolfo Carvalho Medeiros, 30 anos, afirma que a falta de opções de horários e destinos é alvo de reclamação de grande parte dos clientes. “Diminuíram muito voos de Goiânia para São Paulo, certos horários não têm mais. O aeroporto ganhou outros destinos, mas perdeu número de voos para certas localidades. Tinha que ampliar a oferta”, aponta.

A comerciante Leila Gonçalves, de 52 anos, enfrenta uma saga por aeroportos para sair de Belém, onde mora, para Goiânia. Da última vez, ela ficou mais de 10 horas em viagem, já que sempre é preciso fazer conexão em terminais de outras capitais, como Brasília e São Paulo.

“Não tem voo direto de Goiânia para muitas capitais. É horrível, cansativo demais e também perdemos muito tempo”, lamenta a passageira.

A Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Aber) explicou que a crise econômica afeta as companhias. Por isso, a perspectiva é de que, "quando retomada a trajetória de crescimento consistente da economia nacional e, por consequência, do setor aéreo, também sejam multiplicadas as operações no Aeroporto Santa Genoveva, que estará apto para lidar com o fluxo reforçado".

Embarque e desembarque
Inexistentes no terminal antigo, as quatro pontes de embarque, chamadas tecnicamente de fingers, são aprovadas com unanimidade entre os usuários, que sofrem menos com as variações meteorológicas.
“Goiânia é quente. Sair do avião de terno e com o sol de Goiânia era bem desconfortável. Agora é climatizado. Então não dá tanto choque térmico”, opina o advogado Daniel Ribeiro, de 30 anos, que sempre faz o trecho São Paulo-Goiânia.

Piloto de uma companhia aérea, um jovem de 26 anos que prefere não ser identificado também elogia as pontes de embarque, mas espera que aumente a quantidade de operadores. “Algumas vezes há demora, creio que pela falta de operador. Isso gera atraso para sair ou para chegar”, opina.
O piloto, que possui 7 anos de experiência, afirma que não houve mudanças consideráveis na pista de pouso e decolagens. Para o profissional, ela é segura, mas poderia ficar ainda mais com o PAPI, que se trata de uma espécie de rampa, que está inoperante.

“Ela é uma orientação para o piloto na hora do pouso, para saber se está alto ou baixo para acertar a pista. No voo noturno, principalmente, você não tem referência para saber se está no nível certo. Aumenta a segurança no pouso”, explica.

Acesso ao novo terminal
Chegar e sair do terminal nem sempre é uma missão fácil. Ao buscar a localização por aplicativos de celular como o Google Maps, a primeira opção de destino que aparece para os usuários é o antigo terminal.

A duplicidade de informação levou o empresário Estevão Valentim da Silva, de 37 anos, ao terminal desativado. Natural de Belém (PA), ele nunca tinha ido ao aeroporto. Como precisou buscar o pai, que veio a capital Goiânia visitá-lo, consultou o Google Maps, mas não deu certo.

“Apareceu aqui a localização e confiei. Me assustei quando cheguei, com o mato alto, a porta de madeira. Fiquei assustado com o descaso porque achei que era aqui mesmo o aeroporto, não sabia do outro terminal”, declarou.

Segundo a Infraero, o antigo terminal deverá ser aproveitado nas atividades do terminal de logística de cargas. "No momento, este assunto está sob análise do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil e da Infraero", informou a empresa em nota.

A Infraero informou ainda que já entrou em contato com a Google Brasil e enviou quatro comunicados solicitando a atualização dos dados, "inclusive com envio de plantas e mapas com o acesso viário". Porém, até o momento, "não houve o ajuste das informações e a Infraero conta com a colaboração da empresa no sentido de disponibilizar a melhor informação aos usuários do aeroporto".
A Infraero orienta que, caso o passageiro necessite de informações, o site da empresa indica telefone, endereço, horário de funcionamento, empresas que atuam no local, dentre outras informações sobre o Aeroporto Santa Genoveva.

O G1 entrou em contato com o Google, mas não obteve retornos até a publicação desta reportagem sobre a atualização do dado.

Taxista há 10 anos, Luciana Carla Rodrigues afirma que o acesso ficou mais difícil e pesou no bolso dos clientes. Em média, a corrida sai por R$ 10 a mais do que antes.

“Só tem duas opções para checar, uma pelo Jardim Guanabara, que sempre fica congestionada de caminhão, e outra pelo acesso improvisado da BR-153, mas é preciso dar uma volta, ir lá na frente e voltar pelo viaduto. No horário de pico ela também fica congestionada”, explica.

A farmacêutica Patrícia Bezerra de Almeida Mendes, de 36 anos, acredita que ajudaria ter mais placas de sinalização. “É complicado o acesso. O motorista que me trouxe de Rio Verde para Goiânia se perdeu um pouco para chegar aqui”, contou.

O acesso é alvo de reclamação até de pilotos. "Não está bom ainda o 'chegar e sair do aeroporto'. Vias esburacadas, asfalto ruim, falta de sinalização. A saída para a BR é um perigo", explica o comandante de uma companhia aérea, de 30 anos.

Responsável pela manutenção da BR-153, a Triunfo Concebra alega que a via de acesso ao aeroporto pela rodovia "está em boas condições de sinalização e manutenção. Ainda de acordo com a concessionária, há nove placas instaladas no sentido sul/norte indicando o acesso ao aeroporto".
O G1 entrou em contrato com a Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT) para saber se há previsão de melhorias no acesso, mas não obteve um posicionamento até a publicação desta reportagem.

Goteiras e infiltrações
Uma semana após ser inaugurado e pouco antes de iniciar as operações, o novo terminal apresentou infiltrações e goteiras no dia 16 de maio de 2016, durante uma forte chuva que atingiu Goiânia. Pessoas que estavam no local flagraram o momento em que a água escorreu por grandes goteiras no teto.

A Infraero explicou que "problema foi consertado antes do novo aeroporto receber os seus dois primeiros voos". A situação não voltou a se repetir.

Superfaturamento
Responsável pelas obras do terminal, o consórcio formado pelas empresas Odebrecht e Via Engenharia S/A iniciou as obras em 2005. A Infraero informou que gastou R$ 467,4 milhões com a construção, concluída após várias paralisações e indícios de superfaturamento. Ainda de acordo com a empresa, não houve aditivos.

Diferentemente do valor apontado pela Infraero, o Tribunal de Contas da União afirmou ao G1 que fiscalizou o montante de R$ 564.096.065,50 que saíram dos cofres públicos para custear a obra. A quantia se refere à soma dos valores do contrato inicial e dos termos aditivos.
O TCU constatou superfaturamento de R$ 211.698.252,05, quase metade do valor pago, “decorrentes de preços excessivos frente ao mercado”.

Sendo assim, o valor da obra calculado pelo TCU, descontando o superfaturamento apontado, seria de R$ 352.397.813,75.

Em relação aos aditivos, o relator Raimundo Carreiro ainda destaca no acórdão que eles foram firmados “sem que fosse elaborado o orçamento de preços referencial pela Infraero e sua consequente comparação aos preços propostos pelo consórcio”. O ministro crê que a Infraero estava ciente da irregularidade.

“Tal desconformidade teve orientação da Diretoria Executiva, que também aprovou os termos aditivos, desta forma permitiu o superfaturamento decorrente de preços excessivos frente ao mercado”, considera no relatório.

Em razão da constatação do superfaturamento, o TCU converteu o processo em tomada de contas especial, instrumento que visa obter o ressarcimento aos cofres públicos em função da irregularidade encontrada, bem como apurar a responsabilidade por esse dano.

Após a decisão, tomada em dezembro de 2016, o TCU já comunicou os responsáveis para que apresentem suas alegações. Os autos estão na SeinfraRodoviaAviação para a continuidade da instrução.

Lava Jato
Em março de 2016, as obras do aeroporto também foram citadas na 26ª fase da Operação Lava Jato por suspeita de recebimento de propina. O Ministério Público Federal levantou que o policial militar Sérgio Rodrigues de Souza Vaz, que estava a serviço da Agência Goiana de Transportes e Obras de Goiás (Agetop), recebeu propina de Ricardo Ferraz, diretor do contrato da Odebrecht Infraestrutura, para a construção do aeroporto.

De acordo com as investigações, Vaz recebeu, no dia 22 de outubro de 2014, a quantia de R$ 1 milhão, em espécie. Essa entrega, feita a mando de Ricardo Ferraz, ocorreu em um apartamento de propriedade do presidente da Agetop, que fica em São Paulo. O PM foi morto ao tentar impedir um assalto a uma pamonharia, no dia 31 de janeiro de 2016, em Anápolis, a 55 km de Goiânia.

A planilha divulgada pelo MPF também apontou uma pessoa, ainda não identificada, de codinome "Comprido", que teria recebido R$ 400 mil de propina relacionada às obras do Aeroporto Santa Genoveva.

A Agetop informou, em nota, que a "agência e seu presidente não têm e nunca tiveram absolutamente nada com a construção do aeroporto de Goiânia". Ainda de acordo com o órgão, "não é verdade que tenha existido qualquer tipo de 'entrega' no apartamento em São Paulo, local onde moram os filhos do presidente da Agetop. Isso simplesmente nunca aconteceu. Essas ilações absurdas são apenas mais algumas das incoerências e inconsistências das delações".

Em 2017, o executivo da Odebrecht João Antônio Pacífico Ferreira informou em sua delação na Operação Lava Jato que, por sugestão de Carlos Wilson, ex-presidente da Infraero, houve a formação de um cartel para fraudar as licitações e também o pagamento de propina no valor de 3% no valor do contrato do aeroporto de Goiânia para o então presidente do órgão.

Carlos Wilson morreu em 2009, vítima de um câncer. Ele fez tratamento contra a doença durante cinco anos.

Em nota, a Infraero informou que "não comenta conteúdos relacionados a investigações. Entretanto, reitera sua disposição para seguir colaborando para o pleno esclarecimento dos fatos".

Raio X do Aeroporto Santa Genoveva

Área do terminal :
Antes: 7.571 m²
Depois: 34.100 m²

Capacidade de passageiros:
Antes: 3,5 milhões
Depois: 6,5 milhões

Total de posições para aeronaves:
Antes: 6
Depois: 10

Posições com ponte de embarque
Antes: nenhuma
Depois: 4

Vagas de Estacionamento
Antes: 589
Depois: 971

Elevadores
Antes: nenhum
Depois: 11

Escadas rolantes
Antes: nenhuma
Depois: 4

Balcões de check-in
Antes: 30, com dois operadores por balcão
Depois: 23, com um operador por balcão

Esteiras de bagagem
Antes: 3, sendo duas de 33 metros e uma com 27 metros
Depois: 3, com 36 metros cada

Canais de inspeção
Antes: 4
Depois: 7

Fonte: G1 Goiás